Foi inaugurada nesta segunda-feira (9) a Biblioteca de Obras Raras “Fausto Castilho” (Bora), novo espaço do Sistema de Bibliotecas da Unicamp (SBU) destinado à reunião e conservação de livros e diferentes obras antigas, raras e que pertenceram a grandes nomes da intelectualidade brasileira e internacional, como Antonio Cândido de Mello e Souza e Sérgio Buarque de Holanda. A cerimônia de lançamento do prédio contou com a presença de dirigentes da universidade e familiares e amigos de alguns dos nomes representados nas coleções especiais mantidas no local.
A concepção e o projeto da biblioteca teve início em 2009 a partir da necessidade de as diferentes unidades que compõem o SBU terem um espaço e estrutura adequados para preservar obras raras e especiais da universidade. Foram investidos R$ 13 milhões na construção do prédio e aquisição de mobiliário e equipamentos, sendo R$ 9 milhões advindos de recursos da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e outros R$ 4 milhões do orçamento da Unicamp.
O edifício tem 3,5 mil metros quadrados distribuídos em quatro andares destinados a salas para realização de consultas ao acervo, armazenamento e catalogação de obras raras, espaços temáticos de coleções especiais, além de laboratórios com maquinário para higienização e restauração de itens históricos. A Bora conta ainda com equipamentos especiais para digitalização de obras que já estão em domínio público, que serão disponibilizadas para consulta no formato digital, além de auditório, espaço para exposições, salas de estudos, café e loja. Para auxiliar na conservação do acervo, o projeto foi elaborado de forma a evitar a incidência do Sol sobre o local e o prédio foi construído com materiais não inflamáveis. Os brises nas laterais auxiliam na regulação térmica do ambiente.
A nova biblioteca tem capacidade para manter um acervo de até 300 mil volumes. Hoje, o acervo destinado ao local tem cerca de 140 mil itens, sendo 5 mil obras raras, e 26 coleções especiais, com obras que pertenceram a grandes nomes da intelectualidade e que foram doadas à Unicamp. “Cada coleção tem uma característica especial. Neste ano, já recebemos um acervo da Inglaterra, do professor István Mészáros, recebemos recentemente também a coleção do professor Fausto Castilho. É difícil selecionar, porque cada coleção tem uma riqueza”, avalia Valéria Gouveia Martins, coordenadora do SBU. Fausto Castilho (1929-2015), que dá nome à biblioteca, foi o responsável pela implementação da área de humanidades na Unicamp e o primeiro diretor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH). Seu acervo conta com um espaço próprio na recepção do prédio.
“Nós temos obras que são únicas”
A inauguração do espaço foi marcado pela lembrança de nomes cujas obras compõem o acervo da Bora nas coleções especiais, com destaque para Fausto Castilho e Antonio Cândido. Em um discurso emocionado, Ana Luísa Escorel, filha de Cândido, compartilhou com o público um texto do professor encontrado recentemente, após sua morte. Ela enfatizou o quanto Campinas e a Unicamp foram importantes para o pai e para sua família: “Aqui estão meu pai e meu avô. Meu pai doou a biblioteca do meu avô para esta instituição anos atrás. Eu posso atestar a vocês as grandes alegrias que ele teve neste setor. Meu avô estudou aqui (em Campinas), quando era menino, antes de chegar à universidade, e Campinas tem, entre outras razoes e por essa, uma importância particular para o meu pai e passou a ter para mim e para minhas irmãs”.
Quem também se emocionou com a homenagem e lembrou as contribuições trazidas à Unicamp foi Carmen Pontvianne de Castilho, esposa de Fausto Castilho e atual presidente da fundação que leva o nome do professor. “A todos que trabalharam com muito esforço para conseguirmos montar a biblioteca, muito obrigada”, agradeceu Carmen.
Após o descerramento da placa de inauguração, o público pode conhecer as instalações em visitas guiadas pela biblioteca, que continuarão a ser realizadas pelos próximos dias. Segundo Valéria Martins, são poucas as bibliotecas no país com a estrutura que a Bora pode oferecer. “Nós temos obras que são únicas, inéditas, em várias coleções. O que a gente puder preservar para a posteridade, dar acesso à sociedade para que as pessoas conheçam, possam fazer pesquisas, é uma missão da universidade, uma contribuição não só para a região de Campinas, mas para o Brasil. Uma biblioteca desse porte, com todas as características exigidas para um lugar como esse, temos a Biblioteca Nacional. Esse é o primeiro lugar, em muito tempo, que o Brasil ganha”, afirma a coordenadora.
Para Marcelo Knobel, reitor da Unicamp, o novo espaço vem complementar a missão da universidade em manter e difundir conhecimentos para toda a sociedade. “Temos agora um espaço dedicado a obras raras, para coleções especiais. É mais um passo na valorização da cultura, da arte e da literatura, e aqui fazemos nossa parte. Tivemos a construção do prédio, precisamos de muito tempo para organizar a infraestrutura, mas agora está tudo pronto para começar”, celebra Marcelo.
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